Rio - A cada hora, seis crimes virtuais são registrados no Brasil. Só nos quatro primeiros meses do ano, a Central Nacional de Crimes Cibernéticos recebeu 19.397 denúncias de violações dos Direitos Humanos na Internet. As práticas criminosas na rede crescem na mesma proporção em que jovens se expõem sem qualquer proteção. Pesquisa inédita da ONG SaferNet, com adolescentes fluminenses, sobre hábitos de navegação e segurança na Internet mostra que quase metade admite que coleciona mais de 30 amigos virtuais e que os pais não impõem limites. Um terço navega mais de três horas na web e a maioria (70%) se distrai em sites de relacionamentos.
Sob supervisão da mãe: Creusa conta que filho de 10 anos já recebeu mensagens de garotas de programa | Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Entre 10 internautas, dois já presenciaram crimes na rede, como pornografia infantil. Três dos entrevistados tiveram namoros virtuais e têm amigos que foram vítimas de ciberbullying, agressão emocional que se infiltra em correios eletrônicos, blogs, Orkut, MSN e sites semelhantes. Preocupados com os riscos na Internet, os ministérios públicos Federal e Estadual do Rio, em parceria com a SaferNet, vão lembrar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, nesta terça-feira, com oficina para 100 educadores das redes pública e particular do Rio de Janeiro. Os professores vão aprender como orientar seus alunos a se prevenir contra os crimes na rede mundial.
REPRESSÃO E PREVENÇÃO
O curso de prevenção vem com kit pedagógico, com base na pesquisa da SaferNet. “A Internet não é terra sem lei. Nós atuamos na repressão, mas podemos diminuir os riscos com a prevenção nas escolas”, explica a procuradora da República Neide Cardoso de Oliveira, do MP Federal do Rio. Segundo ela, em maio foram feitos 150 pedidos de quebra de sigilo de computadores pessoais no estado.
A pesquisa revela que 16,5% dos jovens já publicaram fotos suas, nus ou seminus e em poses sensuais, usando celulares ou câmeras, em salas de bate-papo, fotologs, Orkut e Facebook. O fenômeno, conhecido como ‘sexting’, surgiu há 5 anos nos Estados Unidos e virou febre por aqui. O termo se originou de duas palavras: ‘sex’ (sexo) e ‘texting’ (envio de mensagens). “Crianças e adolescentes estão sujeitos ao aliciamento para fins sexuais. Até foto bem-comportada pode ser manipulada e a vítima, alvo de chantagem”, alerta Neide.
A estudante de escola pública I. R, 16 anos, postou fotos de biquíni no Orkut e acabou recebendo convite de suposta agência de modelos. “Eles deixaram endereço de uma sala no Centro do Rio. Não fui. Podia ser para prostituição”, conta. Como ela, L.C., 14 anos, também teve medo diante do monitor. “Conheci um amigo virtual que me chamou para encontrá-lo num shopping. Mas não tive coragem de ir”, diz ela. O estudante M.M., 16, não teme se expor. Pelas suas contas, já colocou na Internet, 1.200 fotos, muitas de sunga. “Sou homem, não tem perigo”, crê.
Já o aluno do 5º ano do Externato Coração Eucarístico, no Flamengo, Thiago, 10, tem sempre a mãe por perto, a assistente social Creusa Berto, 44. “Não dá para proibir. Mas estou sempre de olho”, diz. O filho já recebeu mensagens de garotas de programa. “Converso com ele e digo como se prevenir”.
Dica é ficar sempre alerta e suspeitar de desconhecidos
Evite enviar fotos ou mensagens de texto com conteúdo erótico. Uma vez on-line, perdemos completamente o controle do que publicamos. Em qualquer caso, a privacidade do adolescente fica em perigo.
Não abra arquivos de desconhecidos, seja no e-mail, chat, comunicador instantâneo (MSN) ou redes de compartilhamento, e troque suas senhas e atualize seu antivírus periodicamente.
Os aliciadores fingem ser amigos virtuais, se passam por crianças, são ‘amáveis’ nas conversas por chat e MSN e demonstram interesse em jogos e músicas preferidas pelos adolescentes.
Pais devem ativar o serviço de pesquisa segura dos buscadores. Ative a filtragem de páginas com conteúdo sexual explícito, impedindo que elas apareçam nas pesquisas dos filhos.
Jamais aceite convite para encontrar pessoalmente um amigo virtual sem autorização dos pais. A criança e o adolescente ficam expostos aos maiores riscos de violência física, sexual e até sequestro.
Não envie nem repasse mensagens que agridam ou humilhem outras pessoas. Ao repassá-las, você também torna-se conivente com o crime de ciberbullying.
Esteja sempre alerta: não adicione pessoas que você não conhece e suspeite de e-mails desconhecidos ou arquivos anexados. Eles podem se instalar no seu computador e roubar os seus dados.
Em caso de visualizar conteúdos suspeitos de violar os direitos humanos, denuncie em www.denuncie.org.br.